quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Explicar o amor..

Conta-se que uma vez se reuniram os sentimentos e qualidades dos homens num lugar da terra.
Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, propôs-lhes:
- Vamos brincar às escondidas?
A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE, sem poder conter-se, perguntou: Escondidas? Como é isso?
- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo. O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA.
A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou por convencer a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessava por nada.
Mas nem todos quiseram participar.
A VERDADE preferiu não esconder-se, para quê? Se no final todos a encontravam?
A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a ideia não tivesse sido dela) e a COVARDIA preferiu não arriscar.
- Um, dois, três, quatro... - começou a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho.
A FÉ subiu ao céu e a INVEJA escondeu-se atrás da sombra do TRIUNFO, que com o seu próprio esforço, tinha conseguido subir para a copa da árvore mais alta.
A GENEROSIDADE quase não consegue esconder-se, cada local que encontrava parecia-lhe maravilhoso para algum dos seus amigos - se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA; se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ; se era o voo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA; se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim, acabou por se esconder num raio de sol.
O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cómodo, mas apenas para ele.
A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris), e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões.
O ESQUECIMENTO, não me recordo onde se escondeu, mas isso não é o mais importante.
Quando a LOUCURA estava lá pelo 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para se esconder, pois todos os lugares já estavam ocupados, até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre as suas flores.
- Um milhão - contou a LOUCURA, e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou-se a FÉ discutindo com Deus no céu sobre zoologia.
Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões.
Em um descuido encontrou-se a INVEJA, e claro, pode deduzir-se onde estava o TRIUNFO.
O EGOÍSMO, nem foi preciso procurá-lo. Ele sozinho saiu disparado do seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede, e ao aproximar-se de um lago descobriu a BELEZA.
A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois encontrou-a sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado se esconder.
E assim foi encontrando todos.
O TALENTO entre a erva fresca; a ANGÚSTIA numa cova escura; a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano); e até o ESQUECIMENTO, que já havia se esquecido que estava a brincar às escondidas.
Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local.
A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta, e em cima das montanhas.
Quando estava numa de dar-se por vencida, encontrou um roseiral.
Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito.
Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos.
A LOUCURA não sabia o que fazer para desculpar-se, chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser a sua guia.
Desde então, desde que pela primeira vez se brincou às escondidas na terra: O AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.

Amor...

Era uma vez uma ilha onde moravam todos os sentimentos: a Alegria, a Tristeza, a Sabedoria e todos os outros sentimentos. Por fim o amor. Mas, um dia, foram avisados os moradores que aquela ilha iria afundar. Todos os sentimentos se apressaram a sair da ilha.

Pegaram nos seus barcos e partiram. Mas o amor ficou, pois queria ficar mais um pouco com a ilha antes que ela se afundasse. Quando por fim estava quase a afogar-se, o Amor começou a pedir ajuda. Nesse momento estava a passar a Riqueza num lindo barco. O Amor disse:

- Riqueza leva-me contigo.
- Não posso. Há muito ouro e prata no meu barco. Não há lugar para ti aqui.

Ele pediu ajuda à Vaidade, que também vinha a passar.

- Vaidade, por favor, ajuda-me.
- Não posso ajudar-te Amor, estás todo molhado e poderias estragar o meu barco novo.

Então o amor pediu ajuda à Tristeza.

- Tristeza leve-me contigo.
- Ah! Amor estou tão triste que prefiro ir sozinha.

Também passou a Alegria, mas ela estava tão alegre que nem ouviu o amor chamá-la.
Já desesperado, o Amor começou a chorar. Foi quando ouviu uma voz chamar:

- Vem Amor, eu levo-te!

Era um velhinho. O Amor ficou tão feliz que se esqueceu de perguntar o nome do velhinho. Chegando ao outro lado da praia, ele perguntou à Sabedoria.

- Sabedoria, quem era aquele velhinho que me trouxe até aqui?

A Sabedoria respondeu:

- Era o TEMPO.
- O Tempo? Mas porquê só o Tempo me trouxe?
- Porque só o Tempo é capaz de entender o "AMOR"."